sábado, 27 de junho de 2009

Um pouco de epidemiologia!

Muito se fala H1N1, popularmente conhecida como gripe suína, swine flu, gripe porcina e etc. Não há motivo para pânico apesar de ser uma pandemia na escala 6 da OMS (a escala vai de 1 a 6). Essa escala precisa ser vista da seguinte maneira conforme a figura ao lado. Isso significa que ela se disseminou para muitos países e a população sob o risco já está na ordem de 1 milhão. Isso não significa que há 1 milhão de casos. Até ontem dia 26/06/09 segundo a Organização Mundial da Saúde havia 58.814 casos confirmados por exame laboratorial e 263 mortes. Um cáculo simples que é possível fazer é calcular a letalidade da doença, um dos tipos da taxa de incidência. Basta dividir o número de casos mortos pelos número de casos confirmados. Se estiver entre 0,5 e 1,2 a letalidade por essa doença é baixa, comum a muitas outras doenças. No exemplo acima, a letalidade dá 0,44, ou seja sem grandes motivos para pânico ou preocupação do ponto de vista epidemiológico. Um link interessante é este aqui da OMS para ver o número de casos confirmados e mortes por cada país:

Outro site que eu indico para quem, como eu, gosta de ver os dados em forma de mapa é consultar a metodologia do CDC dos Estados Unidos, eles ressaltam que esses mapas não revelam o quão severo é a doença, muito importante isso. Uma pessoa leiga pode olhar para um mapa desses e se assustar e o CDC descreve brilhantemente todos os detalhes como interpretar esses mapas:

Saiu no Jornal da Tarde de ontem uma matéria sobre a distribuição dos casos de H1N1 na cidade de São Paulo (http://txt.jt.com.br/editorias/2009/06/26/ger-1.94.4.20090626.39.1.xml) e eu quase tive um AVC, principalmente com o mapa que foi feito. Foi feito um mapa dos 142 casos confirmados pelas cinco regiões da cidade. Lembrando que a cidade de São Paulo tem 11 milhões de habitantes e esses casos não representam mais que 0,001% em relação a população toda. Muita calma nessa hora amigos não geógrafos! Se querem fazer um mapa dou as seguintes dicas:

1 - Use o nível de agregação por distrito e representem de qual dos 96 distritos da cidade as pessoas confirmadas moram. A zona sul, por exemplo, tem vazios demográficos e mostrar os 47 casos sem mostrar em que parte da zona sul essas pessoas vivem é generalizar demasiadamente.

2 - Quer ver se isso é estatisticamente significativo, use o SatScan, uma ferramente totalmente FREE e que faz análise espacial, temporal e espaço-temporal. Considere no mínimo a faixa etária e o sexo como covariável dos casos e você terá um resultado estatiscamente significativo ou não. Acredito que não será espacialmente significativo. O CDC usa e tem o CrimeStat também. Os dois são usados para Vigilância Epidemiológica.

3 - Pelo amor a deus, coloquem coordenadas, uma escala e um norte no mapa! A OMS também não usa..mas é necessário, em qualquer GIS tem essa função.

4 - A noção de escala é importantíssima, não só para mapa mas para analisar diversos assuntos, é preciso ter a noção clara dos dados, das informações para não cair na análise simplista.

É isso, eu adoro epidemiologia, trabalho com os melhores epidemiologistas do país e não podia me calar diante das notícias no meu espacinho que é o meu blog apesar de ainda ser uma aprendiz!!!

6 comentários:

  1. Mandou muuuuuuito bem Iara!!!
    Vejo que vc não enrolou (apenas) nas suas pesquisas!!! hahahaha
    Brincadeira... mas fico horrorizada ao saber do pânico que a mídia está causando e ao mesmo tempo sabemos que aproximadamente 1 bilhão de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza (para quem não sabe, são pessoas que vivem com menos de U$1 por dia) e estão morrendo de fome, de diarréia (aliás isso sim seria um dado relevante - a mortalidade infantil em alguns países da África e da Ásia deixam a H1N1 no chinelo!!!).
    Pessoal não deixem de viajar e curtir por causa de possíveis espirros!!!

    Abraços!!!

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  2. ah e sem contar na Aids também!!!!

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  3. Somos em 6,5 bilhões no mundo e, segundo as projeções da ONU, chegaremos a 9 bilhões em 2050. Pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza tem duas fontes de dados. Um é do BIRD de 1,1 bilhão que vc falou e eo outro é do PNUD da ONU que calcula em 2 bilhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Quanto a AIDS há aproximadamente 33 milhões de pessoas vivendo com AIDS, já estabilizou mas desse total 70% se concentra na África e 2 milhões morrem por ano mais ou menos. O problema são as doenças cardiovasculares, mata mais ou menos 11 milhões por ano no mundo todo segundo a OMS.
    Eu consigo ser séria de vez em quando...principalmente nas minhas pesquisas...hehehe Fora dela, vc sabe como eu sou! hahaha
    Bjos
    Iara

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  4. Gente, a repórter me respondeu. Adorei a resposta dela, compartilho com vocês:

    "Cara Iara, bom dia!!!
    Gostei da crítica, embora não tenha gostado da forma como fizemos o levantamento. Às vezes fica complicado fazer uma coisa elaborada porque, antes de receber os dados, estes passam pelas mãos de uma coisa chamada assessoria de imprensa. Esta, por sua vez, filtra as informações e muitas vezes os dados recebidos não somam a metade dos dados solicitados pelos repórteres.
    Independentemente de qualquer coisa gostei do que escreveu e acho tbm que não há razão para alarde. Por favor, continue a comentar nossas reportagens!!!
    Att,
    Jornal da Tarde
    Marcela Spinosa
    Repórter de Cidades"

    Obrigada pela resposta!
    Iara

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  5. Uia! Tá chique minha amiga, palpitando e sendo respeitada! Quando crescer quero ser igual a você!
    Então, sobre a gripe, aqui tem se falado um pouco menos disso, mas esta semana apareceram 2 casos aqui em Chatillon (na cidade em que eu moro, nos arredores de Paris) e a galera daqui de casa meio que entrou em pânico. Os pais resolveram que vão comprar aqueles produtos que "desinfetam" as mãos (não lembro se é essa a palavra...rs) para que as crianças sempre passem quando colocarem as mãos em qualquer coisa de lugar público.
    Achei meio bizarro, apesar de não manjar muito de todo esse lance estatístico. Fiquei pensando: meu, eles não estão nem aí p/ banho, a fedelha faz escalda pés na panela de cozinhar macarrão, toma água que ela colocou no tubo de desinfetante que estava vazio... hahahahahaa... e agora eles se preocupam cuidados de higiene e limpeza?!
    Rola um anticorpo fortíssimo nessa galera! Por que acreditar que o perigo mora ao lado???

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  6. Imagina meu, só sou uma palpiteira...hahaah
    Bizarro mesmo, a fedelha é uma típica européia...hahahaha.Higiene e limpeza são coisas que os europeus não ligam muito...as nossas mães na europa infartariam. A coisa é cultural mesmo, em clima frio eles não têm o costume de tomar banho todos os dias. Nós aqui no calor é pelo menos 2 banhos ao dia. Minha mãe na amazônia tomava uns 4 por dia....hahahaha Graças a Deus tivemos a influência dos indígenas na nossa cultura e nos preocupamos mais com limpeza e higiene.
    Com certeza o sistema imunológico dos europeus é mais power que o nosso. Saudades de Chatillon, uma cidade muito fofa!
    Bjos

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