terça-feira, 30 de julho de 2013

Trilha do Ouro - Parque Nacional da Bocaina Parte II

No segundo dia de caminhada tínhamos 11 Km pela frente e saímos às 12h30. O calçamento de pedra já começa a surgir na nossa trilha. Essas pedras ou melhor dizer, rochas, foram colocadas pelos escravos no século XVIII no auge no ciclo do ouro no Brasil, por isso se chama Trilha do Ouro. O Ouro saía da cidade de Ouro Preto e era levado para o litoral para ser levado a Portugal.
 
Nós 4 fizemos bem boa parte desse trecho, faltando 2 Km para terminar a trilha encontramos um verdadeiro lamaçal. Havia chovido alguns dias atrás e como no caminho passam muitas mulas, fica muito difícil caminhar tranquilamente. Para o meu caso foi muito difícil, além de eu estar com tênis normal e com bolha nos 2 pés eu simplesmente tive que ir descalça...rsrs
Haviam muitas pontes com troncos estreitos e altos, alguns tinham um galho de apoio, outros tinham cabos de aço. Mas a travessia mais legal foi uma tirolesa com um apoio para colocar a mochila para atravessar o rio Mambucaba e finalmente chegar na casa do sr. Sebastião. Chegamos por volta das 17h00 quase escurecendo. Eu fiquei na pousada aliviada por ter conseguido chegar e o Erick tentou ver a cachoeira e os meninos Rafael e Marconi acamparam perto da Cachoeira do Veado. Não há energia elétrica e muito menos sinal de celular na região, eu consegui me sentir isolada de tudo e de todos e essa sensação é interessantíssima. Mais uma vez jantamos uma comida deliciosa feita com fogão a lenha.
Pensando na dificuldade que tive no lamaçal e conversando com a esposa do Tiãozinho eu perguntei se havia uma outra possibilidade de fazer o trecho final sem ser a pé. Ela me comentou que havia poucos dias que uma mulher havia feito a trilha em cima de uma mula e levou umas 4 horas. O preço era salgado R$200,00 mas naquele momento era minha única saída. Preciso agradecer o Erick por ter conseguido um belo desconto para mim...rsrsrs. Então ficou decidido que eu faria o trecho final em cima de uma mula como os tropeiros faziam no século XVIII.
A mula que me levou se chama Londrina e é linda e forte, fiquei encantada pela Londrina. O Tiãozinho foi puxando a mula a pé e eu fui montada na Londrina. O Tiãozinho faz o techo de 18 Km a pé em 4 horas com muita tranquilidade. O Erick veio logo atrás e veio acompanhando, com uma mochila de 20 Kg nas costas, o ritmo do Tiãozinho. Percebendo que o Erick tinha um excelente ritmo de caminhada o Tiãozinho ofereceu para levar a mochila dele na mula. A Londrinha carregou as duas mochilas e eu. A força da mula é impressionante, aprendi muito sobre elas e as comparações com os cavalos. Cheguei a perguntar qual o preço de uma mula...rsrsrs custa R$5.000, mais caro que uma moto! Não que eu esteja interessada em comprar uma mula...mas cheguei a brincar com o Tiãozinho dizendo que eu gostei tanto de andar na Londrina que seria capaz de seguir viagem até São Paulo com ela! hehehe
 
 Realmente esse trecho do terceiro dia é o mais difícil de todos e com um tênis comum é muito complicado. O ideal é estar de bota, há muitos atoleiros de lama. Para mim o fato de não precisar me preocupar em saber onde eu pisava eu consegui apreciar muito a paisagem e isso foi sensacional. Um fato interessante aconteceu, eu não senti medo de andar de mula, muito pelo contrário estava muito segura com ela. Mas houve um momento que a Londrina teve uma reação super estranha e o Tiãozinho explicou que isso acontece quando ela sente que a onça está por perto. Ou seja, nós estávamos muito perto da onça, que incrível!
 
Enfim conseguimos chegar no final da trilha em Mambucaba! Continua no post III.

Trilha do Ouro - Parque Nacional da Bocaina Parte I

É com muita alegria que escrevo esse post. Como muitos sabem eu adoro trilhas ou em inglês trekking e esse ano eu resolvi me dedicar a conhecer algumas trilhas no Brasil. Coincidentemente graças a este blog eu conheci um carioca chamado Erick Eas que é apaixonado por trilhas e um grande organizador e experiente em trilhas. Havia alguns meses que ele havia comentado que estava planejando fazer a Trilha do Ouro. Eu gostei muito da ideia e como estava de férias eu decidi topar fazer essa trilha. Confesso que pensei em desistir várias vezes pelo grau de dificuldade que ela apresenta, mas valeu super a pena vivenciar 3 dias de muitas aventuras na famosa Trilha do Ouro.
Começamos nossa expedição em São José do Barreiro- SP, uma cidade linda e aconchegante que pertence ao chamado Vale Histórico, região onde ocorreu a Revolução de 1932. Eu pernoitei na cidade de quinta para sexta quando chegaram o Erick, a Leonor, o Marconi e o Rafael todos vindos do estado do Rio de Janeiro, ou seja, eu era a única de São Paulo no grupo. Meus amigos de Sampa infelizmente não conseguiram ajustar as agendas. Principalmente meus amigos geógrafos que ficaram morrendo de inveja do meu trekking na Bocaina...rsrsrs
De São José do Barreiro até a entrada do Parque Nacional são 27 Km feitos num carro 4X4, um carro comum ainda não sobe em condições de chuva. Dentro de 1 ano aproximadamente o asfalto estará concluído. Nós contratamos o Tião da Barreirinha para nos buscar em São José do Barreiro e levar nossas mochilas cargueiras, isso custou R$35 para cada um.
 
 Da entrada do Parque até a pousada do Tião da Barreirinha são 18 Km de estrada de terra batida, boa parte do trecho é bem tranquilo de caminhar, mas há alguns trechos com lama. Nos primeiros 3 Km tem a Cachoeira Santo Izidro na foto acima, é linda e dá para tomar banho. O frio era tanto que eu não me arrisquei na água gelada, mas o Erick e o Rafael gostaram de entrar na água. Encontramos muitas araucárias nesse primeiro dia de caminhada, começamos com 1600 m de altitude e avistamos o chamado domínio dos Mares de Morros.

Faltando 3Km  dos 18 Km para terminar a trilha do primeiro dia por volta das 21h o Tião da Barreirinha foi nos buscar de carro porque estava muito tarde, parecia uma miragem quando eu vi o carro dele, que alívio. Andamos umas 3 horas com nossas lanternas ligadas e escutando barulho na mata, me assustei várias vezes. Enfim chegamos na aconchegante pousada do Tião da Barreirinha. Na foto acima mostra o jardim e o quarto todo de madeira com beliches e cobertores bem quentinhos. A diárias custa R70,00 e inclui janta, banho quente e café da manhã. Há que se dizer que a janta é feita num fogão a lenha, achei isso fantástico. Há chuveiro quente aquecidos pelo cano que vem do fogão a lenha. Havia uma lareira dentro de casa para nos aquecer já que fez de 2 graus a zero de temperatura. Pernoitamos e no dia seguinte fomos até o Pico do Gavião que está a 1650m de altitude.
Com tempo bom é possível avistar o mar do pico do Gavião, apresenta uma visão linda da região que o Mateus, filho do Tião, nos levou para conhecer. Depois, contratamos o serviço de mula para levar nossas mochilas da pousada do Tião da brreirinha até a outra pousada do Sebastião, ou Tiãozinho. Esse serviço custa R$100,00 e leva até 4 mochilas na mula, foto acima do canto direito.
 
Eu particularmente achei fantástico contar com os serviços de carregamento das nossas mochilas cargueiras. Sem mochila nas costas já era uma caminhada difícil, com a mochila talvez eu estivesse lá na Bocaina até agora. Nossa amiga Leonor teve uma queda que prejudicou o joelho e teve que voltar de carro para São José do Barreiro. Eu, Erick, Marconi e Felipe seguimos para 11 Km do início da trilha do ouro, mas a continuação dessa história ficará para a próximo post!