sexta-feira, 22 de julho de 2016

Relato de uma corredora na sua primeira maratona! Rio 2016, o ano olímpico!

Esse dia sem dúvida será o mais inesquecível da minha vida, foi o dia que completei minha primeira maratona, a maratona do Rio de Janeiro! Acredito que todo corredor de rua um dia sonha com essa distância ou pelo menos tem um grande fascínio e respeito por essa distância.

Eu confesso que sempre achei loucura e muito absurdo correr 42.195 quilômetros, achava inclusive que jamais faria. Eu estava feliz com os meus 10K de muitos domingos no estilo "run just for fun" ou seja, sem grandes pretensões.

Como tudo aquilo que faz bem, a corrida foi me dando mais confiança e aos poucos comecei e desejei correr alguns quilômetros mais. Eu ficava super feliz quando fazia 12K, 13K até que decidi que correria minha primeira meia maratona, que não por acaso foi no Rio de Janeiro ano passado AGO-2015. Eu sou apaixonada por essa distância, acho que nessa quilometragem eu desenvolvi muito mais meu amor pela corrida e onde eu senti que poderia tentar uma maratona.

Uma dica muito interessante que li e que eu reproduzo aqui é, caso você queira fazer uma maratona, sem dúvida nenhuma, é importantíssimo ter completado pelo menos 4 provas de meia maratona e claro muitos treinos solos de meia maratona.

Uma coisa é você fazer uma prova de meia maratona, a energia contagiante te faz ir pra frente, outra coisa é você acordar um dia e falar: hoje meu treino é de meia maratona. Eu fiz a maioria dos meus longos sozinha, então pra mim era uma vitória pessoal quando eu sozinha conseguia cumprir minha planilha de treino.


Eu gosto muito de treinar de modo bem confortável, tento ajustar o máximo possível tudo, desde o top, a faixa no cabelo, a viseira, a bermuda, a regata, a meia e claro o tênis. Conforto é algo que tem que ser testado durante os treinos para quando for para a prova não ter nenhum tipo de problema e realmente não tive problemas nesse sentido.

Acredito também que não existe nenhum momento durante a preparação que eu me senti totalmente preparada, aliás eu sempre senti e ainda sinto que tenho que melhorar muuuuuuito. Todo dia de treino é um novo desafio e não importa o quanto você treina, a maratona é dolorida para todos, é uma distância respeitável e que te coloca numa situação de limite do tipo: ou você vai com dor, ou você desiste porque não soube lidar com a dor ou porque se lesionou. Tem dores que são suportáveis...claro que tem outras que não! Cada um deve saber seu limite de parar ou seguir em frente.

Por falar em dor, acredito que ninguém gosta de sentir dor, mas treinando para a maratona eu percebi o quanto É IMPORTANTE TREINAR E SENTIR DOR e saber dominá-la. Um mês antes da maratona no Rio eu fui para a Praia Grande fazer um treino longo de 30K. Eu vinha de um treino de meia maratona e uma prova de meia maratona seguida com intervalo de uma semana entre elas. Nesse dia nos 30K eu senti dor desde o primeiro quilômetro e eu falava para meu irmão que também treinou comigo que eu estava com dor e ele me dizia: "para de frescura, isso é normal." O fato é que eu corri os 30K com dor nas coxas, hora a dor vinha, hora passava e hoje eu vejo o quanto esse treino foi importantíssimo. Depois desse treino comecei a chorar, achando que não ia conseguir completar a maratona porque sofri demais. O engraçado é que minha mãe me esperava num banco na praia e quando eu cheguei, claro que muito além do horário combinado, ainda levei uma bronca.....rsrsrsrs

Tudo o que eu desejava depois desse treino era chegar no dia da prova sem dor no início e isso deu certo, veja a foto abaixo de um dos meus lugares favoritos no Rio. O dia estava lindo e não tão quente assim!

Um outro treino que simulou muito bem o que acontece na maratona foi fazer 3 semanas antes 2 treinos de 18K num mesmo dia. Esse treino me deu muita confiança porque é muito importante você treinar cansada. Sou grata ao Rafael que foi meu staff e me esperou completar os dois treinos. Sou grata aos ultramaratonistas Fábio e Roselaine que me falaram para fazer 2 treinos num mesmo dia. Nesse dia também tive a alegria de conhecer um maratonista sensacional, Silvio, que já correu 37 maratonas e eu estava lá feito criança escutando as milhares de dicas e histórias interessantes, tudo isso no meu intervalo entre os dois treinos.

Tudo isso para dizer que treinar para a maratona é sentir muito cansaço e mesmo assim você se sentir feliz por atingir as quilometragens planejadas durante os treinos.
Meus treinos foram muito abaixo do que seria o ideal e eu tenho plena consciência disso, mas a minha vontade de entrar no universo da maratona e sentir todas as quilometragens era meu combustível. Eu estava muito feliz e fui feliz em cada quilômetro percorrido durante a maratona. A triatleta Fernanda Keller já tinha me dito que eu seria muito feliz na minha primeira maratona, foi dito e feito! Todo o desafio que nos colocamos a fazer e cumprimos para nós mesmos é a maior conquista que podemos ter.
A semana da maratona, o coração bate a mil por hora, não consegui dormir direito e ainda por cima fiquei doente com inflamação nas cordas vocais e na garganta. Fiquei proibida de treinar na semana da maratona, uma semana antes eu tinha corrido 7K e me senti esquisita quando fui na médica e ela me disse que eu tinha que ficar em repouso para não virar uma pneumonia. 

Viajei ao Rio com duas amigas muito queridas, Andreia e Talita, as quais eu vou pentelhando e incentivando a correr e participar dessa grande festa que é a maratona. Independente da distância escolhida, o evento da corrida de rua, o ambiente por sí só é uma festa, e eu adoro esse ambiente!

O vídeo do percurso da maratona do Rio feito pela organização do evento foi sensacional, chorei várias vezes e fiquei estudando os pontos e as quilometragens e me vizualizava sempre conseguindo completar a prova. Eu sabia que era difícil mas sempre pensava, de um jeito ou de outro vou completar essa prova.

Escrevendo esse post, parece que eu vivi um sonho! Acordei 3h30 da manhã para tomar banho e me trocar para ir para a prova. No hostel onde eu estava tinha outros tantos corredores e formamos um grupo que foi para a parada do ônibus da maratona que nos levou para a largada no Pontal do Tim Maia no Recreio dos Bandeirantes. Eu pensava, nossa estou aqui mesmo na largada, eu vou partir para correr 42K. Na verdade parecia que eu ia correr qualquer outra prova de 10K ou 21K, a diferença é que eu não fazia ideia como me sentiria numa prova de 42K.

Dada a largada fui correndo muito bem e me sentindo bem escutando minhas músicas do meu iPod e observando e me observando no meio daquele monte de gente para sempre me lembrar desse momento. Tive um imprevisto no Km 8, coisas de mulher e no Km 15 tive que parar e ir ao banheiro onde perdi uns 15 a 20 minutos. Passei a meia maratona muito feliz e sem dor. Isso era um dos meus planos, passar a meia e estar com energia para dobrar a quilometragem. No Km23 começou a primeira subida onde fiz correndo bem lento, mas fiz correndo. Na vista do elevado do Joá eu comecei a chorar emocionada, meu amor pelo Rio de Janeiro é declarado de tal maneira que sempre me emociono. Passei do Km 25 ao 26 bem e muito confiante. No Km 28 surgiram as primeiras câimbras e um corredor me emprestou um gelol. Depois disso comecei a pegar gelo em todas as paradas de água e passar nas pernas. Passei o Km 30 bem, não senti o paredão que tanto falam.

No Km 36 ao 37 foi super difícil pois a câimbras começaram a aumentar mais e mais, ela vinha e depois melhorava e depois vinha novamente, parecia que ela queria mesmo correr comigo. No Km 40 as minhas pernas ficaram duras de uma vez, a ponto de ter que parar e esperar um pouco para voltar ao normal. Talvez no Km 40 foi meu paredão! Nesse momento eu escutava a música Fighter da Cristina Aguillera e pensava, vamos perninhas, falta pouco para acabar, não me abandone agora, não quero terminar andando. No Km 41 tive a surpresa de escutar: "Iarinhaaaaaa" da minha querida amiga trilheira Luciana que já tinha acompanhado o namorado maratonista e me esperava alí. Ela falava, falta 1 Km Iarinha, não para! (foto ao lado).O namorado dela dizia, vai embora, não para! Eu não sei o que aconteceu nesse momento, mas essas palavras de incentivo parece que foram cruciais, fiz meu último quilômetro sem câimbras, sem dor e super feliz. Quase na chegada, minhas amigas Andreia e Talita gritaram meu nome e me acompanharam do lado de fora da grade.

O fato é que cruzei o marcador dos 42K super feliz e saltando, peguei minha medalha e não estava entendendo o que acontecia alí. Eu só falava para minhas amigas, foi muito difícil, muito difícil e chorava.

Levei um tempo para entender e ainda hoje mesmo escrevendo aqui, acho que ainda vou levar esse aprendizado para o resto da minha vida. O autoconhecimento que tive de mim mesma foi incrível, nem eu sabia quem era aquela Iara correndo com dor. A Iara que corre 42K ainda é um desafio e lições que quero continuar aprendendo. Em nenhum momento senti ódio da corrida ou me perguntei o que estava fazendo alí, muito pelo contrário, eu pensava ...."preciso treinar mais", vou fazer mais isso, mais aquilo, já confabulando comigo mesma meus próximos treinos

Essa foto é da melhor empada de carne seca com o melhor chopp escuro do mundo no boteco Belmonte, que alegria comer essa iguaria pós maratona!
De todos os desafios e aventuras que já fiz, a maratona tem realmente um sabor diferente, uma poesia diferente, um astral diferente, uma energia diferente de absolutamente tudo que já fiz. Minha próxima maratona será aqui em São Paulo da Asics city marathon dia 31 de Julho. Eu sei que não deveria fazer uma tão próxima da outra, mas depois dessa vou me reestruturar e me planejar para o ano que vem. Uma maratona por ano acho que está bom, até os 40 anos ter feito umas 7 maratonas, uma por ano, vou ficar muito feliz!

Depois vou fazer provas de meia maratona que são uma delícia e onde eu tento puxar vários amigos. Meu foco vai ser esse, pentelhar meus amigos corredores para fazer meia maratona ou simplesmente "correr just for fun" sem quilometragem definida, apenas para se divertir com a  corrida! Isso eu adoro!

Iniciei meus primeiros passos na maratona num ano de Olimpíadas e isso também será inesquecível!