domingo, 10 de fevereiro de 2019

Geoiarinha se despede do Japão!

Namba - Osaka
Depois de uma experiência sensacional de 11 meses no Japão, voltei ao Brasil com uma bagagem de aprendizado sem limite de peso que eu jamais vou esquecer.
Nos meus últimos 40 dias de Japão, visitei lugares incríveis, mas me estressei bastante também. Eu amo o Japão na mesma intensidade que eu odeio. 
Já dizia a música La Mar  da banda The beatiful girls que "Only love can be both heaven and hell", é o meu amor pelo Japão, o paraíso e o inferno não necessariamente na mesma ordem. Faço questão de deixar muito claro aqui que não consigo ver apenas o lado bom das coisas como muita gente faz, assim como também não consigo ver apenas o lado ruim. O bom e o ruim coexistem na nossa vida, ignorar um em favorecimento de outro seria muita ingenuidade.

Volto ao Brasil com a experiência de ter vivido num país "desenvolvido" que me ensinou muito além do que eu imaginava poder aprender em livros ou artigos. Sem dúvida morar em outro país traz um aprendizado imenso, mas o melhor é poder descobrir que onde eu nasci e cresci e minhas origens me ensinaram a ser quem sou hoje. Posso morar em Marte, Júpter, Saturno que não deixarei de ser quem eu sou. O Japão não é um planeta, mas é como se fosse, pois além de ser bem longe é difícil de entender, tudo alí é muito diferente de diversos países.

Meu combo favorito no Doutor

Agradeci, agradeço e vou agradecer sempre a todos que cruzaram meu caminho no Japão, todos em diferentes intensidades foram fundamentais no meu aprendizado: ARIGATO! Não consegui me despedir de todos no Japão, mas espero encontrá-los novamente de preferência no Brasil.

Nos últimos dias de Japão me despedi de coisas que gosto muito. Adoro comer um dos combos de café da manhã do Doutor Café porque sempre toca bossa nova, sempre. Não teve uma vez que eu entrei nesse café e não escutei minha língua portuguesa tão linda e suave, sempre me sentia mais tranquila e apaixonada pelo Japão. Tem muitos japoneses que amam Bossa Nova. Minha rede de combini favorita é a Mini Stop também porque eles tocam Bossa Nova nas lojas, várias vezes escutei.

Descobri no fim da viagem que minha cidade japonesa favorita é Nagoya na foto ao lado, é a mais cosmopolita e a que nunca tive um problema de comunicação porque tem muitos estrangeiros. As bibliotecas de Nagoya são as melhores e a da Universidade de Nagoya em especial é a melhor biblioteca que eu ja tive a oportunidade de frequentar milhares de vezes. O museu de trens em Nagoya também conquistou meu coração, fiquei super encantada com a história do transporte ferroviário no Japão com direito a entrar num simulador de shinkansen.
Por falar nele, sentirei falta do Shinkansen sem a menor sombra de dúvidas. Fazendo uma conta, ao todo deu 30 viagens de shinkansen somando o que fiz 4 anos atrás com essa vez. Obrigada Japão por oferecer o JR Pass para os turistas, isso sem dúvida é uma das melhores coisas para se aproveitar no Japão. Acho mais fácil conhecer o Japão como turista do que com visto de trabalho ou visto permanente, acho que não acho....tenho certeza!


Volto apaixonada e encantada pela história do Japão do período EDO, o museu Edo em Tokyo me deixou super feliz, o melhor museu do Japão na minha opinião e por incrível que possa parecer o museu da cidade de Yokkaichi que é grátis, é maravilhoso também e retrata parte do período EDO.

Sentirei falta dos Onsens no Japão e aliás aproveito para indicar aqui o melhor de todos os onsens que já visitei, está aqui em Osaka e se chama SPA WORLD, milhares de piscinas termais e para minha surpresa a mais legal de todas as piscinas se chama ESPANHA. Cada piscina tem um nome de um país europeu e a cascata da Espanha me conquistou! Não pode entrar com tatuagem, mas cobri a minha do ombro com uma toalha do próprio spa e sempre tomava o cuidado de não deixá-la exposta para não ofender as japonesas, uma japonesa que conheci no Havaí me deu essa dica para a tatoo. Fica aqui o link desse lugar incrível http://www.spaworld.co.jp/english/

Em Tokyo fui atrás de um bairro muito pobre que no passado se chamava Sanya, mas não encontrei nada que classificasse como pobre, mas descobri uma escultura de um poeta viajante japonês que se chama Basho Matsuo que foi super conhecido no período Edo, adorei esse poeta. Claro que a estátua estava com o escrito em japonês sem nenhuma tradução, mas nada como ter um grande amigo japonês para me socorrer e me ensinar mais a fundo sobre esse país! Obrigada Hajime por tudo, estar no Japão contando com o resgate constante de um amigo japonês cosmopolita, não tem preço.

Favela em Haginochaya-minami Park

Agora em Osaka, sem dúvida Kamagasaki é um estudo de caso particular, percorri o bairro várias vezes e me sentei na praça do Haginochaya- minami Park tentando compreender a pobreza do local. Na minha última visita, fiquei ali sentada na praça e parou um carro suspeito e uns caras esquisitos que falaram alguma coisa pra mim, mas como eu não entendo japonês...achei que era melhor sair de fininho, fiquei com medo de me seguirem. 

Mês passado nessa mesma praça, uma mulher me convidou para entrar num carro...sabe-se lá pra onde. Não recomendo para as pessoas irem nesse lugar, é super diferente de todo o Japão, mas eu adoro passear alí e se você chegar às 11h dá para almoçar com os locais. E à noite nesse lugar é super diferente, muitos moradores de rua, muitos, muitos...me senti em Mumbai na Índia que durante o dia não tem os moradores de rua, mas à noite eles ocupam os seu lugares. Não estou inventando é verdade, na frente do hotel Shin-Imamiya tem pessoas dormindo na rua do outro lado da calçada no minuto que escrevi esse post.
Vista do Shin-Imamiya hotel em Osaka
Para quem fica no Japão eu desejo o melhor de todas as energias positivas para realizar suas conquistas e desafios nesse país que não é fácil, ser imigrante no Japão é super difícil, só vivendo para sentir na pele. Lutem para fazer sempre o melhor que vocês puderem e não abaixem a cabeça para os japoneses que propuserem fazer o errado, essa é a minha mensagem para os brasileiros que vivem no Japão. Fiquei muito feliz de ter conhecido um brasileiro que trabalha num sindicato de uma fábrica japonesa e que luta diariamente para que as condições sejam melhores para os estrangeiros, fiquei tão feliz de saber que existem esses brasileiros no Japão. Conheci pessoas que lutam contra o bullying a estrangeiros nas escolas japonesas, um desafio imenso aqui para quem é estrangeiro no Japão. 
Mas a realidade e o fato é que muitos brasileiros aceitam serem submissos só pelo fato de estarem no Japão e terem a falsa sensação de viver num "país desenvolvido", mantém um falso "status quo" de felicidade e perfeição...mas no fundo sofrem muito e o sinal mais comum é a depressão. Eu aprendi que a pior coisa que existe é você enganar a sí próprio e lá no Japão conheci vários que enganam a sí mesmo. Mas conheci muitos que lutam dia e noite para fazer das suas vidas e do seu meio um lugar melhor para se viver, é de se emocionar!

Uma coisa que aprendi no Japão: ter trabalho, dinheiro, iphone, carro, casa não deixam os brasileiros mais felizes no Japão, muito pelo contrário. Tem muitos brasileiros que por falta de estudo e aprendizado constante carregam na alma o complexo de vira-lata, é muito triste isso. Minhas aulas in loco no Japão acabaram, mas sigo no Brasil refletindo sobre tudo isso que vivi.


Para terminar deixo uma frase de um site super legal que gosto de ler http://www.japansubculture.com/
Conquer anger with compassion.
Conquer evil with goodness.
Conquer trolls with humour & sarcasm
Conquer ignorance with knowledge
Conquer stinginess with generosity. 
Conquer lies with truth

Traduzindo:
Conquiste a raiva com compaixão. 
Conquiste o mal com bondade. 
Conquiste "trolls" com humor e sarcasmo 
Conquiste a ignorância com conhecimento 
Conquiste a mesquinhez com generosidade. 
Conquistar a mentira com a verdade

 Obrigada Japão, Arigato Nihon!


O mundo é um constante aprendizado que não tem fórmulas ou regras definidas, mas uma coisa é certa, o meu amor pelo conhecimento é renovado a cada dia. Obrigada leitores, tentei compartilhar minhas percepções pessoais baseadas na minha vivência no Japão e de conhecimentos de outras culturas ao redor do mundo.