sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Para que serve a educação? A resposta de um índio guarani


Resultado de imagem para indigenas desenhoVou seguir escrevendo sobre o aprendizado que venho tendo com os indígenas recentemente. Os povos indígenas do Brasil, na minha opiniã, tem ideias e concepções que são pouco disseminadas entre nós que vivemos na cidade .Mas é claro que Geoiarinha está aqui para ajudar nessa tarefa em entender melhor as ideias indígenas.
A pergunta do título do post foi dada por Carlos Papá, um pajé e cineasta da aldeia Guarani Mbya. Ele mesmo, numa palestra, fez essa pergunta e respondeu:
A EDUCAÇÃO SERVE PARA PROTEGER O SEU PRÓPRIO SER

Escrevi em letras garrafais e em negrito porque achei sensacional essa resposta, simples e direta. Segundo esse índio, os indígenas estão sempre buscando novas formas de entendimento e ele tem plena clareza que ele não sabe nada. Ele acredita que as gerações seguintes vão sempre conhecer mais que ele

Não são incríveis essas definições? Eu já escutei de pessoas adultas que trabalham muitas horas me perguntar se vale a pena estudar. Ter essa dúvida já é um sinal que as sinapses estão acontecendo no cérebro, ter dúvida é importante. O problema maior está em ter certeza, quando alguém tem a certeza que não vale a pena estudar, aí aconteceu a necrose das sinapses e nesse caso o ser pode ter morrido mesmo estando vivo. Ou então ter a certeza que só uma única e definitiva decisão, basta. Muita gente só enxerga apenas um único caminho.

Resultado de imagem para decisões desenhoA educação passa pelo estudar e isso não é a certeza de sucesso, de emprego bom, de salário alto, mas o teu cérebro vai fazer mais conexões e as relações que estabelecemos com as pessoas e com o mundo se ampliam. As decisões, quando se incorpora esse conceito de educação, tendem a ser mais assertivas, ou seja, a pessoa tende a ser mais confiante e mais segura de si. Ser mais confiante e mais seguro de si mesmo não é ter a certeza na forma binária de certo ou errado, mas tem muito mais a ver com a segurança da tomada de decisão sem sentimento de culpa.

Quantas vezes em muitas decisões da minha  vida eu escutei frases do tipo: "oh, mas você vai fazer tal coisa dessa maneira?" Eu costumo responder quando eu tenho muita clareza da situação, sim estou segura da minha decisão ou que não significa que eu tenha certeza. Estou longe de ser a pessoa mais segura do mundo nas minhas decisões, eu tenho dúvidas, eu me questiono, mas principalmente eu me permito escutar diferentes posicionamentos para pensar melhor sobre as decisões que aparecem na vida. E se por acaso eu tiver tomado uma decisão que não foi tão boa quanto eu esperava, tudo bem, sempre é possível consertar e recalcular a rota a ser seguida. Sabe aquela voz do google maps de quando você erra o caminho e ele fala: "recalculando", acho que é assim que eu me sinto sempre....recalculando sempre a minha rota.
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Por isso que eu acho que os índios são muito sábios e tem uma compreensão de mundo muito plural, dinâmica e simples. Os índios que estou conhecendo estão me surpreendendo com tamanha genialidade e simplicidade e na medida do possível vou trazendo aqui para reflexão.

domingo, 3 de novembro de 2019

É preciso sair da aldeia para conhecer a aldeia!

Eu estava no Japão na última vez que escrevi e desde que voltei ao Brasil, minha vida foi tão intensa com muitos compromissos acadêmicos e profissionais que fui abduzida pela retomada da minha rotina em São Paulo. Toda vez que entro na avenida 23 de Maio ou entro no metrô em São Paulo, sinto que voltei para a corrente sanguínea dessa megacidade. Uma das melhores sensações de voltar para casa é ver no bilhete de embarque e no painel do aeroporto as três letrinhas GRU, voltar para minha cidade, minha pequena aldeia, é e sempre será uma alegria imensa.

Depois de morar 1 ano no Japão, fiquei bastante reflexiva pensando e repensando sobre o Brasil e com certeza de ter tido um aprendizado no Japão que se tornou um divisor de águas na minha vida. O mais legal é que muitas pessoas aqui no Brasil quando me perguntavam como tinha sido a experiência no Japão, tinham a expectativa de que eu fosse falar mil maravilhas como se lá fosse o verdadeiro paraíso. Eu acabo decepcionando muito as pessoas sobre essa ilusão que vendem aqui de país desenvolvido, em especial obviamente sobre o Japão. Deixo bem claro o quanto eu amo o Japão e o quanto esse país me ensinou, mas digamos que meu amor amadureceu e agora tenho uma visão pautada em experiências que eu vivi e senti, boas e ruins. Os chineses são sábios em entender as relações de Yin e Yang, a nossa vida é assim.


Resultado de imagem para o invasor americanoHoje assistindo o documentário de 2015 do Michael Moore "O invasor americano" fiquei mais feliz de ver que existem pessoas que saem da sua aldeia para poder conhecer melhor a aldeia. Basicamente, o diretor visita diversos países atrás das melhores ideias para levar para os Estados Unidos porque esse país tem muitos problemas. Sobre o Japão, para sair do visão romântica é assistir "Assunto de família" de 2018 , filme japonês que ganhou prêmio ano passado.


Se não é possível conhecer todos os países in loco, uma maneira de fazê-lo é pela arte, pelo cinema. Há diversos filmes e desenhos disponíveis que permitem às pessoas ampliarem sua visão de mundo. O acesso a diversos filmes pelas diversas plataformas existentes hoje deveriam servir como um meio de acesso para a construção de esclarecimento,  discernimento,  crítica e portanto conhecimento.

Não é possível que em pleno século XXI ainda tenham pessoas com a mentalidade do período feudal. Eu definitivamente tenho muita dificuldade de entender pessoas que pensam de maneira tão retrógrada. Eu me pergunto sempre, para que serve ter um iPhone e internet de alta velocidade se você não consegue enxergar o óbvio da sua vida, do seu dia-a-dia? Qual o sentido que te motiva acordar cedo e trabalhar?

Resultado de imagem para ailton krenakMe empolguei em escrever esse post porque conheci recentemente Ailton Krenak, um índio e ativista da causa indígena com uma capacidade de discernimento, crítica e conhecimento impressionantes. Se vocês puderem assistir os vídeos dele no youtube, assistam. Foi ele que me influenciou para o título desse post. Um índio que conhece muito bem a sua própria aldeia, mas que devorou no sentido de adquirir conhecimento tudo o que está fora da aldeia. Na palestra dele, dentre tantas coisas, a que mais me chamou a atenção é ele dizer: "por que vocês tem tanta dificuldade em enxergar o óbvio?"


Resultado de imagem para interrogaçõesEssa pergunta é linda e aí eu penso sobre por que muitos brasileiros aceitam tantas coisas erradas no Japão? Por que muitos aceitam como normal a opressão, os xingamentos, os assédios? Por que os brasileiros se sentem tão inferiores no exterior? Por que o brasileiro odeia tanto seu próprio país? Por que o brasileiro, mesmo aqui no Brasil, não se enxerga enquanto ser humano que precisa de um mínimo de dignidade? Por que o brasileiro acha que só ter pensamento positivo, as coisas vão mudar na prática?


Eu posso sair da minha aldeia quantas vezes eu quiser, mas a aldeia nunca vai sair de mim. A esperança é que o conhecimento se construa para que seja possível se enxergar na aldeia e principalmente aprender o que há de bom e de ruim fora dela.

Precisamos voltar a sermos mais "humanos" e usar o que a evolução trouxe de melhor para a nossa espécie, nosso cérebro. Qualquer tentativa de manipulação que limitem a capacidade de pensar a complexidade da vida, das pessoas e dos países é uma afronta a evolução.

#conheçasualdeiaesejaglobal